19.9.06

A BOMBORDO

De entre os vários blogs que "passo os olhos" diáriamente, há um asno que aprecio e que considero uma referência na blogos. Hoje decidi responder ao repto que ele lançou: eu também viajo a bombordo.
E porquê? Por várias razões e mais algumas. Mas só menciono meia-dúzia.
Porque... no célebre Liceu de Oeiras, onde vivi o antes e depois do 25/4, tive a sorte de fazer algumas viagens experimentais e gostei imenso das vistas quando viajei a bombordo. Identifiquei-me logo com a paisagem.
Porque... o meu Pai, que eu adorei até partir, viajava a estibordo (mesmo à ponta, quase a cair borda fora) o que nos proporcionava grandes debates, cordiais e correctos, que muito contribuiram para ajudar a talhar a pedra bruta. Aqui, foi mesmo da discussão que nasceu a luz.
Porque... é lendo, ouvindo e vendo quem se senta nos lugares de estibordo que se descobre quanto gostoso é viajar no lado contrário. Como quando ia para o Liceu, nos combóios da Sociedade Estoril. Nas carruagens de 2ª classe de assentos castanhos e direitos, apesar de se viajar em piores condições, confraternizava-se muito mais (e melhor) do que nas carruagens de 1ª classe de assentos azuis e inclinados.
Porque... é como ser do meu Belém, agiganta-se e vai-se sempre a jogo com uma inabalável certeza de vencer. Quando se perde, nunca se diz que foram os outros que ganharam, fomos nós que perdemos e tem que se treinar mais.
Porque...também não dá jeito nenhum mudar. A gente habitua-se a viajar daquele jeito e pronto. É, a bem dizer, como os casamentos de antigamente, as pessoas acomodam-se e são felizes.
E porque, last but not the least, gosto de pensar e decidir por mim. Mesmo quando as opções que tomo não parecem ser as mais correctas, mas das quais raramente me arrependo. E agradeço que respeitem isso. Porque eu retribuo.

2 comentários:

Carminda Pinho disse...

Bombordo significa o lado bom.
Nunca mais esqueci este significado. Corria o ano de 1978 e navegava eu no navio "Rio Zaire" onde, era piloto na altura o meu marido.
Fui a subir o rio de La Plata que me ensinou o significado de bombordo e estibordo, nunca mais esquecerei.
É evidente que as minhas opções de vida se situam também a bombordo, andava eu na Ferreira Borges quando optei pelo lado bom onde me tenho mantido e manterei. Pensando eu também, pela minha própria cabeça, não autorizando ninguem que decida por mim.
Gostei da sua prosa LRC, tenho a certeza que tudo o que disse foi muito sentido.
Um Abraço
Ah já agora! é costume dizer-se cá em casa: "não é Belenenses quem quer é Belenenses quem pode".

LRC disse...

Cara Carminda, obrigado pelas suas palavras. Vejo que teve no seu percurso algumas etapas agradáveis.
Lá em casa dos meus pais, também se usava esse ditado do Belém. É como no fado: não é fadista quem quer, mas sim quem nasceu fadista.
Um abraço.