Foi uma opção consciente, embora não goste do último disco dela, mas fui levado pela lembrança do espectacular concerto de há 2 anos, na Torre de Belém, com o Jacques Morelenbaun e a Sinfonietta de Lisboa, em que a Mariza nessa noite conseguiu aliar o Fado com uma outra sonorização, que lhe ficou muito bem, como se pode confirmar pelos registos sonoros efectuados. Nessa memorável noite, o Fado esteve lá.
Mas ontem senti-me defraudado. Para quem estava à espera de qualquer coisa de Fado (e devíamos ser muitos), só se vislumbrou o vestido que a artista envergava e a guitarra do seu acompanhante. Conotado com o Fado, só isso, Tudo o mais foi uma sequência de marchas e cantigas, misturadas com o bailado da artista, a apelar às palminhas do público sedento de festa, já embalado pela música antecedente e a aguardar pela brasileirada que viria a seguir.
Mesmo os "êxitos próprios da Mariza", ontem travestidos de uma nova roupagem musical, não soaram ao costume. Acho mesmo que a troca da guitarra mágica do Luís Guerreiro e da batida da viola do António Neto, por aqueles novos instrumentistas de ontem, também não ajudam muito ao cunho fadista a que Mariza nos habituou.
Até o famoso amaliano "Primavera" com que costuma encerrar os espectáculos estava tão diferente que nem se conseguiu sentir a letra do fado.
Foi uma noite em grande para a popularidade de Mariza, sem dúvida, mas muito murcha para o Fado e para toda a simbologia que ele encerra. Pelo andar da carruagem, ainda havemos de assistir ao Povo que Lavas no Rio cantado pela Mariza com o Fado Vitória acelerado e com a populaça a dançar e a bater palminhas. Em jeito da tal World Music a que Mariza, pelos vistos, está colada.
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